PORTUGUÊS: UMA LÍNGUA DIFÍCIL?

É bastante comum ouvirmos a afirmação de que português é uma língua difícil de aprender, de falar. Isso parte tanto de estudantes como das pessoas em geral, no dia a dia. Mas será que a Língua Portuguesa é assim tão difícil quanto dizem?

Como brasileiros, o português é nossa língua nativa, o que significa que já conseguimos nos comunicar nesse idioma desde crianças e vamos aprendendo cada vez mais vocabulário e estruturas enquanto crescemos até mesmo antes de entrar na escola. Porém, é justamente quando entramos na escola, mais especificamente no Ensino Fundamental, que nos damos conta de que estamos estudando a língua que já falamos e essa, na verdade, é cheia de regras. Uma língua aparentemente fácil transforma-se em algo difícil, às vezes, bem difícil.

O caso é que temos que ter em mente que a Língua Portuguesa tem as suas variedades. Isso quer dizer que a forma que aprendemos e usamos o idioma no nosso dia a dia com a família, amigos, está correta, não precisamos mudá-la, corrigi-la e nem ficarmos envergonhados pela forma como falamos ou usamos a Língua Portuguesa nessas situações cotidianas. É o que chamamos de Português não padrão. Porém, se participarmos de eventos como uma palestra (como ouvintes ou palestrantes), produção de texto científico, entrevista de trabalho, até mesmo uma apresentação oral na escola, na universidade ou no trabalho, teremos que usar o português com mais cuidado, ou seja, devemos evitar gírias ou expressões populares, cuidar com o vocabulário e estruturas que utilizamos a fim de sermos claros e objetivos. Em outras palavras, usaremos o Português padrão. Este é o português da escola, transmitido por professores e livros didáticos.

O Português padrão é uma tentativa de padronizar o uso da Língua Portuguesa a fim de que haja um entendimento geral em todos os cantos do país. Ainda, por ser a variedade eleita para certos eventos sociais, o domínio do português padrão significa acesso às diferentes formas de conhecimento além de demonstrar ou poder auxiliar na ascensão social. É por isso que, na escola, aprendemos um português diferente daquele com o qual estamos acostumados a ter contato. Entretanto não podemos esquecer nosso português do dia a dia e começar a menosprezar, a discriminar o português não padrão e quem o usa.

Mas só porque estudamos o padrão na escola, não significa que no português não padrão não há regras, elas apenas estão internalizadas e, pelo fato de ser nosso primeiro contato com a língua, não nos damos conta disso. Como exemplo, podemos citar o uso do plural somente no determinante do substantivo como “os menino não vieram hoje” visto que o plural do artigo já dá a ideia de mais de um menino. É a regra da economia! Outra curiosidade é o fato de muitas palavras utilizadas no português não padrão, especialmente por pessoas com escolaridade mais baixa, e que consideramos erradas, serem consideradas arcaísmos, ou seja, herança de uma língua de um tempo antigo. É o que podemos observar em alguns versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões: “Vinham as claras águas ajuntar-se”; “Alevantando o rosto assim dizia”; “A noite negra e feia se alumia”. Assim, é importante entender que há diferentes formas de utilizar nossa Língua Portuguesa, dependendo da nossa cultura, formação, família, região e até mesmo ambiente em que nos encontramos. O fato é que o português não padrão é mais mutável, mais dinâmico, acompanha as mudanças da vida das pessoas enquanto o português padrão é mais estável.

Dessa forma é possível perceber que ambas as variedades possuem suas particularidades e até mesmo suas regras e demandam estratégias e procedimentos específicos com a linguagem. Poder usar as duas variedades com eficiência é o que evidencia nosso domínio do idioma.

Créditos
Texto: Professora Suy Mey Schumacher Moresco
Foto: Photo by bruce mars from Pexels