Um breve resumo da história da relação entre Irã e Estados Unidos
E 2020 começou agitado. Nos primeiros dias do ano, o noticiário internacional abordou, de forma incessante, o acirramento das tensões entre os dois astros deste artigo. Depois que as forças americanas executaram o general Soleimani, um dos maiores chefes militares iranianos, o líder supremo do Irã, Aiatolá Ali Khamenei, jurou vingança aos Estados Unidos. Então, muita gente começou a se perguntar, pode ocorrer uma terceira guerra mundial?
Foram alguns dias de tensão mundial, enquanto se aguardava a reação iraniana. O tamanho dessa reação provavelmente definiria o desenrolar dos fatos. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez constantes ameaças, quanto às consequências de uma possível reação intensa do Irã. Trump chegou a afirmar que os Estados Unidos tinham 52 alvos iranianos que poderiam ser atacados a qualquer momento.
No fim das contas, a reação iraniana não foi tão estrondosa. No dia 7 de janeiro, 4 dias depois da morte de Soleimani, duas bases militares americanas no Iraque foram atacadas pelas forças iranianas, causando apenas destruição material.
Mas por que o Irã não se vingou de forma mais efetiva? As razões são claras. Que país gostaria de entrar numa guerra com os Estados Unidos? Por mais que o Irã tenha aliados importantes, como a Rússia, não seria nada interessante atrair uma guerra para o seu território em troca de uma “vingança severa” como havia prometido o Aiatolá Khamenei. Na verdade, mais uma guerra na região não seria interessante pra ninguém.
Toda essa tensão de início de ano fez surgirem algumas perguntas. A relação entre os dois sempre foi conflituosa? Por que existe um atrito entre Irã e Estados Unidos?
A primeira resposta é não! Durante a maior parte do século XX, a relação entre as duas nações foi de bastante proximidade. Destaca-se o período em que o Irã era governado pelo Xá Reza Pahlevi (1941-1979), principalmente a partir de 1953, quando o Xá concentrou poderes, tornando-se um autocrata, com ajuda dos Estados Unidos.
Durante esse período, o Irã era um importante aliado dos Estados Unidos, em uma das mais importantes e estratégicas regiões do mundo, o Oriente Médio. Vale lembrar que era época da chamada Guerra Fria, grande disputa internacional entre Estados Unidos e União Soviética. Esse elemento reforçava, para os Estados Unidos, a importância da aliança. Foi nesse período que, com ajuda fundamental do aliado americano, teve início o programa nuclear iraniano, hoje combatido pelos Estados Unidos. Até mesmo a cultura ocidental penetrou com força no Irã. Música, cinema, alimentação, vestuário etc.
Mas, então, o que aconteceu? Como a relação mudou assim?
Com o decorrer dos anos, o governo do Xá Reza Pahlevi passou a enfrentar uma crescente oposição. Tal oposição era liderada pelos religiosos Xiitas, que condenavam a abertura excessiva do Irã aos Estados Unidos, bem como a ocidentalização dos costumes. Esses religiosos eram apoiados por considerável parcela da população. Outros setores também reforçaram a oposição ao Xá, por vários motivos. Uns combatiam o autoritarismo do governo desejando um país mais democrático. Outros defendiam a nacionalização do petróleo iraniano, na época explorado principalmente por uma companhia controlada pela Inglaterra, a British Petroleum.
O resultado desse crescimento da oposição ao governo foi a Revolução Islâmica ou Revolução Xiita de 1979. Liderados pelo Aiatolá Khomeini, autoridade suprema dos Xiitas na época, o movimento derrubou o Xá Reza Pahlevi, que foi para o Egito e depois para os Estados Unidos. O governo foi assumido pela cúpula xiita do país. O que isso significa?
O Irã é um país persa (inclusive chamava-se Pérsia até 1935) em que a maioria da população segue a religião islâmica. O Islamismo, segunda maior religião do mundo em número de seguidores (perde para o cristianismo) divide-se em alguns ramos, sendo dois os principais: xiitas e sunitas. A maior parte do mundo islâmico segue a vertente sunita, mas no Irã a maioria absoluta é xiita.
Ao assumir o poder, o governo xiita do Irã rompeu com os Estados Unidos, nacionalizou o petróleo e proibiu a presença de muitos elementos culturais e hábitos considerados americanos. Aiatolá Khomeini chegou a dizer que os Estados Unidos eram um “Grande Satã” que precisava ser combatido.
A partir daí, a relação entre os dois países ficou deteriorada, e de lá para cá, ocorreram vários momentos de acirramento das tensões entre eles. Obviamente, o rompimento com os Estados Unidos fez com que o Irã se aproximasse das nações que não tinham boa relação com os americanos, destacando-se União Soviética (Hoje Rússia) e a China.
Atualmente, o Irã segue governado pelos xiitas e disputa o poder e a influência regional com a Arábia Saudita, poderoso país Sunita e aliado dos Estados Unidos. O governo iraniano constantemente apoia grupos militares Xiitas nas ações em outros países da região, numa clara demonstração de que as rivalidades existem e continuam, tanto em relação aos Estados Unidos quanto aos aliados dos americanos na região do Oriente Médio.
Inclusive, é exatamente esse o argumento do governo americano para justificar a execução do general Soleimani, fato tão marcante no começo de 2020, e que deu início ao presente artigo.
Créditos
Texto: Professor Francisco
Foto principal: ichef.bbci.co.uk
Foto 1: Aiatolá Khomeini – Líder da Revolução Xiita de 1979 – quest.eb.com/
Foto 2: Jovens iranianos antes da Revolução de 1979 – www.albawaba.com
Foto 3: Jovens iranianos depois da Revolução de 1979 – quest.eb.com