Ninguém aprende Inglês na escola! Blá blá blá…
“Ninguém aprende Inglês na escola”, você concorda? Os pequenos da educação infantil hoje no Brasil, em grande parte das escolas, já têm aulas de Inglês ao menos uma vez na semana. Começam cedo e saem do Ensino Médio sem saber nada. Não é?
Não, não é. É senso comum. Pergunte-se novamente:
– Nada? O que seria aprender tudo em qualquer língua estrangeira que fosse?
Costumo trocar de lugar as disciplinas quando estudantes me trazem essa, ou até os pais, confusos de tantas obrigações escolares, dizem para mim que o filho ou filha não está indo bem em Inglês porque não faz aulas em escolas de idiomas.
Voltemos para o exercício. O que você sabe de Biologia quando termina o Ensino Médio? Ou de Física? Caso você seja um aluno escolarizado, do tipo que não precisa de ameaça ou monitoramento para estudar, provavelmente questões mais recentes das matérias estudadas e um basicão você domina – desconsidero aqui os que esquartejam os livros em nome de uma vaga nas universidades e que, certamente, saem do colégio sabendo muito teoricamente sobre todos os conteúdos, inclusive os de Inglês. Só não saberia dizer por quanto tempo esses conteúdos perduram, pois se trata da decoreba de goela abaixo.
Os cinco reinos dos seres vivos na biologia, estática e equilíbrio na física, alguma coisa das duas guerras mundiais… um tanto disso aí está “inserido” na memória de boa parte dos estudantes ao fim da educação básica. Ou seja, detalhes, fórmulas específicas, nomenclatura, minúcias da biologia, química ou matemática não estão na ponta da língua dessa galera após um mês depois de uma prova. Por que o inglês estaria?
Conhecer um idioma profundamente exige o contato frequente, atualizações e muito interesse. O possível, em boa parte das escolas nas configurações atuais, é ter uma noção básica/intermediária da língua. É possível guiar a criança ou o adolescente à compreensão do que é língua dentro de um processo de assimilação lento em comparação com sua língua materna. É construir significados, dar conta de aprender um repertório de vocabulário solto, palavras livres e aos poucos a edificação de frases e, com muita dedicação, constituir-se um ser discursivo no uso da língua estrangeira. Mas, o discurso não é o objetivo da educação básica, a finalidade é fazer o aluno enxergar sua natureza sociointeracional e ser ativo no ensino-aprendizagem em todas as disciplinas.
Já propus aos meus pupilos um exercício interessante. Selecionei algumas músicas em russo, alemão, japonês, árabe, francês e inglês. Todas confrontadas dentro de um gênero semelhante, RAP francês, RAP russo, RAP japonês (sim, existe!) e, finalmente, um RAP em Inglês. A brincadeira é: quando ouvirem a música que for cantada em inglês, digam!
Bingo! Raríssimas vezes erraram. Para não dizer que nunca, quando usei um rock pesado em inglês escocês, nem todos perceberam que era em inglês. Mas as músicas com o todo poderoso sotaque do “American English”, é batata.
E, aí? Não sabem nada? Sabem! Os ouvidos do estudante brasileiro estão muitíssimos familiarizados, afinados com a sonoridade da língua dos ingleses. O salto para o diálogo com um gringo é outra história, mas a sensibilidade está lá. Experimente solicitar ao estudante adolescente para que faça uma lista das palavras que conhece em inglês em comparação com a quantidade de conceitos em filosofia, ou datas de acontecimentos históricos, ou princípios matemáticos ou nomes e obras em literatura. Equiparou?
Sabe-se que parte das palavras, expressões vêm da influência de tais países na nossa cultura, mas a molecada, inclusive os que não estão nem aí para as aulas de inglês, de fato aprendem umas “coisinhas”. “The book is on the table”, “the cat is in the box”, “can I drink some water?” “How do you say that in English?” entre outras, não são sentenças absorvidas em filmes ou músicas. Foi na escola. Imaginem se as aulas de Inglês do colégio não se traduzissem naquele momento em que muitos alunos pensam: – Uhuuu! Massa! Aula de inglês, só zueira.
Qual a importância que alunos e até pais dão às aulas de inglês em comparação as de língua portuguesa ou química? Quais tarefas apavoram mais? Se tirar nota baixa em inglês é o mesmo que tirar em geografia ou física? Quais argumentos faltam para convencer que essa disciplina, entre quase todas, fará muita diferença no currículo?
Domar, imperar um idioma leva anos. Como também assegurar que você aprendeu todas as bacias hidrográficas para sempre. Saber de verdade leva muuuuuito tempo, e escolhas. A escola básica quer o básico. Que não se resume em horas sentados fitando o quadro, se estende por outras horas fora do ambiente escolar no cumprimento do que ele te propõe. Quem faz isso aprende pacas na escola.
O mesmo vale para as escolas de idiomas, no entanto elas incluirão com mais horas competências da oralidade, audição, por exemplo, com um preço mais específico também. Qual a diferença de postura do aluno na escola e no curso de idiomas. Entende?
Não aprendeu nada de inglês na escola? Du-vi-do! Poderia ter ampliado mais? Sim, não o fez pois priorizou outras coisas e tudo bem, sabe… Nem todos nos rendemos ao formato de muitas escolas – ela mesma é refém de um currículo e também pode acabar reproduzindo a cultura do “não se aprende inglês na escola”.
Mas não jogue toda a “culpa” nas aulas de inglês do colégio. Sair do lugar cômodo e passivo de aprendiz, assumir e atuar é mais coerente. Se você ou seu filho não aprendeu qualquer coisa em inglês, principalmente quem estudou nesta última década da escola básica, provavelmente não encara essas aulas da mesma forma como as demais disciplinas. Salvo as dificuldades específicas ou os que têm muitas afinidades com certas áreas ou ainda um professor traumatizante. No mais, não me convence.
Do you get it? Peace and love!
Créditos
Texto: Professora Karline Beber Branco
Foto principal: https://tinycards.duolingo.com/decks/KcJapBEW/do-you-speak-english-segunda-edicao
Foto texto: https://twitter.com/sidnawy_15/status/338760510210179073/photo/1